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31 . 05 . 2018

Dieta pobre em gordura vs. Dieta pobre em hidratos de carbono - Estudo de 12 meses

Hoje em dia, o debate sobre qual a dieta mais eficaz para a perda de peso é muito aceso. De um lado, temos os adeptos da dieta pobre em hidratos de carbono (incluindo o extremo da dieta cetogénica) para quem os hidratos de carbono são a razão da epidemia de obesidade dos tempos modernos. Em oposição, temos os seguidores de uma dieta pobre em gorduras, que defendem que o consumo de gordura leva à acumulação da mesma, no organismo.

Este ano, foi publicado, por um grupo de investigadores da Universidade de Stanford, um estudo que se debruçou sobre esta controvérsia, intitulado DIETFITS (“Dietary Intervention Examining The Factors Interacting with Treatment Success). Neste estudo, foram randomizadas 609 pessoas com excesso de peso por dois grupos, que seguiram duas dietas diferentes durante 12 meses: dieta pobre em hidratos de carbono (LC – “low carb”) vs. dieta pobre em gorduras (LF – “low fat”).

O grupo inicial tinha: uma média de idades de 40 anos, IMC médio de 33 e era composto por 57% de mulheres.

O estudo pressupunha múltiplas sessões de acompanhamento presencial com uma equipa de nutricionistas e educadores, que assistiram na implementação das dietas. Estes investigadores tiveram um cuidado louvável na qualidade das dietas que recomendaram. Assim, para os dois grupos, estava recomendado o consumo abundante de vegetais e desencorajado o uso de produtos refinados e processados.

As dietas foram ajustadas, de forma a que o máximo número de pessoas conseguisse cumpri-las. Em média, no grupo LF, a distribuição de macronutrientes por aporte calórico, era: 20% de proteína, 30% de gorduras e 50% de hidratos de carbono. Para o grupo LC, o aporte de energia, em média, derivava de: 23% de proteína, 47% de gorduras e 30% de hidratos de carbono.

No final dos 12 meses, 479 pessoas (241 no grupo da dieta LF e 238 no grupo da dieta LC) mantiveram-se no estudo.

O resultado foi, estatisticamente, semelhante para os dois grupos:

  • Perda de peso média de 5.3 kg no grupo da dieta LF
  • Perda de peso média de 6.0 kg no grupo da dieta LC

Há, contudo, vários outros pontos importantes a realçar deste estudo:

  • A percentagem de macronutrientes das dietas de ambos os grupos não foi excessivamente restrita e é algo perfeitamente sustentável.
  • Em ambos os grupos houve uma significativa diminuição do aporte calórico, em média, na ordem das 500 calorias por dia, apesar de não ter havido nenhuma indicação para contar calorias. Talvez a vantagem destas dietas que restringem macronutrientes, advenha da restrição calórica.
  • Em cada um dos grupos, houve uma grande disparidade de resultados interpessoais. Houve pessoas a ganhar 10 Kg, enquanto outras perderam 30 Kg de peso. Talvez as pessoas que ganharam peso numa das dietas, tivessem perdido na dieta “oposta”?
  • Os investigadores utilizaram testes genéticos (polimorfismos de 3 genes – PPARG, ADRB2 e FABP2), que, supostamente, conferem um genótipo mais propenso ao sucesso na perda de peso quando se segue uma dieta LF ou LC. Os resultados foram desanimadores, já que, não tiveram qualquer correlação estatisticamente significativa com a perda de peso. Ou seja, utilizando estes 3 polimorfismos, não é possível determinar quem vai responder a uma abordagem LC ou LF. Talvez, num futuro próximo, com mais marcadores genéticos, esta análise seja possível.
  • Foi também estudada a correlação entre a resistência à insulina (neste caso aferida através do índice INS-30) e o sucesso de uma abordagem LC. A teoria era de que, numa pessoa resistente à insulina, uma dieta baixa em hidratos de carbono seria mais eficaz. Todavia, também não se observou qualquer relação entre o marcador de resistência à insulina e o sucesso de uma dieta em detrimento da outra.
  • Entre todos os parâmetros antropométricos e laboratoriais estudados (pressão arterial, perímetro abdominal, percentagem de massa gorda, etc.) não houve diferenças significativas em nenhuns, ao fim dos 12 meses, excepto para: colesterol das LDL (aumento de 5% no grupo LC), colesterol das HDL (aumento de 5% no grupo LC), triglicéridos (diminuição de 15% no grupo LC).

Devido à sua volumosa amostra, este estudo é um importante marco no campo da nutrição e obesidade. Permite-nos concluir que não existe uma única abordagem “milagrosa” para a perda de peso e que cada pessoa deverá encontrar o padrão alimentar que melhor condiz com o seu património genético. Para a maioria das pessoas, mais importante que a distribuição dos macronutrientes, talvez seja a qualidade dos alimentos que ingere, devendo eliminar alimentos processados, com elevada densidade calórica e pouca qualidade nutricional.

Referências:

Gardner CD, Trepanowski JF.

“Effect of Low-Fat vs Low-Carbohydrate Diet on 12-Month Weight Loss in Overweight Adults and the Association With Genotype Pattern or Insulin Secretion – The DIETFITS Randomized Clinical Trial”

JAMA, February 2018

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29466592

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