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27 . 07 . 2020

Caso Clínico - Relação Mente - Corpo

Este é o caso de uma paciente de 39 anos que apresentava sintomas digestivos e dermatológicos. Veio-se a identificar um claro elo emocional na origem do quadro clínico.

L.C. tinha estabelecido residência em Portugal após viver em Itália por alguns anos. Cerca de um ano antes, havia desenvolvido uma dermatite perianal, caracterizada por desconforto e prurido intenso. Em paralelo, a paciente tinha sintomas digestivos, com distensão abdominal após as refeições.

L.C. já havia consultado vários médicos, e foram tentados diferentes tratamentos, incluindo antifúngicos sistémicos e tópicos, associados a corticosteróides, sem grande sucesso. A avaliação pela Gastroenterologia excluiu a presença de uma fístula anal associada à dermatite.

Na opinião de L.C. havia, claramente, uma associação com a dieta. Inclusivamente, no passado, L.C. tinha sofrido de eczema, que melhorou significativamente após mudança de hábitos alimentares (transição de uma dieta puramente vegetariana para uma dieta mais equilibrada do ponto de vista nutricional e com baixo potencial inflamatório).

Na primeira consulta, ficou clara a possível associação entre os sintomas digestivos e o problema dermatológico. L.C. já tinha vivido em 17 países diferentes e tido vários episódios de gastroenterites infecciosas. Talvez se tivesse instalado um desequilíbrio da flora intestinal que agora condicionasse uma perturbação do sistema imunitário e hiperreactividade cutânea.

Não foi possível realizar um teste completo da microbiota, pelo que foi instituída terapêutica empírica com uma dieta anti-inflamatória e de fácil digestão, em associação a alguns agentes botânicos com actividade antimicrobiana. O objectivo era diminuir a inflamação no intestino, optimizando a absorção de nutrientes e minimizando a estimulação do sistema imunitário. Ao mesmo tempo, procurou-se equilibrar a flora intestinal e tratar um eventual sobrecrescimento de bactérias ou fungos com potencial patogénico.

Houve uma resposta positiva após o tratamento, mas de pouca duração, pois os sintomas voltaram. Numa consulta de seguimento, a paciente reportou uma remissão completa dos sintomas, de forma abrupta. L.C. estava num processo de divórcio litigioso há vários anos e, no dia seguinte à finalização desse processo, o seu problemático eritema desapareceu sem deixar rasto.  Durante todo o processo, L.C. não tinha sido tratada com respeito e consideração e, nas palavras da própria: “Eu estava muito zangada e havia um fogo dentro de mim, que se estava a manifestar na minha pele.” Até ao presente momento, não houve qualquer recidiva a registar.

Este é um caso ilustrativo da complexidade e subtileza do corpo humano. Por vezes, os sintomas têm uma origem muito menos linear e lógica do que aprendemos nos volumes de fisiopatologia. Há que considerar o estado mental e emocional do paciente no quadro clínico completo, sendo que por vezes os conflitos até são maioritariamente inconscientes e de difícil identificação. Esta é a tendência cada vez mais abrangente e menos compartimentada da medicina do futuro.

Categorias: Casos Clínicos

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